quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Recordação Paterna

  Eu posso agora, pôr de lado o pranto,
  E ciente afinal d'agrura relembrar,
  Que de ti só me resta o espanto;
  — A dor — de ser mais um a se angustiar...

  Queria sentir-me amado e te admirar,
  Mas a tua índole roubou o encanto,
  E em minha face, triste a te remirar;
  Com tais negruras, qu'evocam tanto!...

  Alheio fugiste, e nem tentou assumir,
  Ou desculpar-se, dos erros indignos,
  E por fim, és u'a omissão a haurir...

  Preste atenção, inda a causar-me aperto,
  Meu pai!... — De teu devasso ser maligno,
  Eu te encovo e o proclamo morto!


Felipe Valle


  * Versos decassílabos no ritmo Sáfico (4ª, 8 e 10ª).

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