segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Cratera Civil


Membros resvalam com sofrimento:
 Tochas s'elevam p'los incendiados,
Na estrebaria em que há flagelados;
Todos ingênuos com seus ferimentos...

A dor s'expõe numa fúria!... Momento
De reflexão p'los atros quebrantados.
Socorro seria u'a flor aos magoados,
Que s'alienaram na chama e lamento!

U'a nuca aberta algures, perdão
Não se acha nesta funérea região,
 Tão dizimada na guerra terrível.

E sem parar a barbárie sentida,
  Surgem d'um ventre as cruas sobras, inda
Marchando p'la existência infértil.

Felipe Valle

* Versos decassílabos no ritmo Provençal / Gaita Galega (4ª, 7ª e 10ª).
                                        ** Este ritmo também é conhecido como Moinheira.
*** Este soneto foi inspirado no reflexivo quadro Guernica, do pintor espanhol Pablo Picasso.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Vertigem Cemiterial


 Eu não confronto, p'la tua cinza campa,
  És, sabes bem, soturno e tão ausente,
  Olhando quieto, a contar cada etapa;
  Dos meus passos um tanto penetrantes.

  Fito-te assim, receoso e descontente,
  Que da vida, incógnito 'ste mapa,
  Causa-me tatear; náusea cegamente,
  Sem saída, pois teu apoio me escapa.

  Ando pelo ruído chão calcado...
  Ciente a fazer, dos mortos em companhia,
  A nossos dois espíritos, perdidos.

  Balouça as tristânias, tão aspérrimas...
  Dessa senda, que é mui temerária;
  A nossas duas almas, de tão nigérrimas.

Felipe Valle

  * Versos decassílabos no ritmo Heroico (6ª e 10ª).

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Vingança


 Nas multidões e tochas pelo ar
  Pela escolha vil recuei bem rápido,
  Eram diversos, meu temido olhar,
  Nada perante era a tal urdido...

  O que será que poderia calar
  O grito... O luto que foi ferido?
  Deixei o pânico, veloz s'afirmar
  Numa ardência ao meu olhar perdido...

  E na tarefa, o refece orgulho
  Aos poucos, ter que eu rever somente
  Com a tristeza pelo meu caminho....

  Numa contagem regressiva, plena,
  Para se tornar plenamente forte, 
  E, heroicamente ressurgi da geena!

Felipe Valle

* Versos decassílabos no ritmo Sáfico (4ª, 8ª e 10ª).

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Glória Fúnebre



"À Minha Amada Vanessa Luna"

  Então éramos tristes e fugaces,
  Tendo medo de não mais nos revermos.
  Partilhando aquilo tudo que amávamos
  Entre vãs tentativas pertinaces...

  E malsã era a luz, das nossas faces,
  Bem repleta de dor que protegíamos,
  Na memória o Amor — co'ele sonhávamos!
  Em minutos, findaria, edaces...

  Os sepulcros, na máxima sapiência,
  Como não fossem lúgubres, místicos,
  Pareciam nos alertar calmamente;

  Eu armado em desejo, na ciência
  Que p'ra lá eu e tu um dia iríamos,
  T'eternizei num beijo, suavemente...

Felipe Valle

* Versos decassílabos no ritmo Martelo Agalopado (3ª, 6ª e 10ª).

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Beleza Vespertina


                                              "À Vanessa Luna"
                    Que a tua estrela continue a brilhar neste céu negro!

  Quando badala o céu na vespertina,
  Teu olhar à fitar-me ascendente,
  Soando mais uma vez no Azul poente,
  Desperta da minh'alma uma bolina. 

  E nesse triste sonho reluzente,
  Repica melodiosa! Mui divina
  A sonata — tal como bailarina —
  Ensaiando um passo indolente...

  Eu a seguir-te, cada movimento,
  Mirando atentamente o firmamento,
  A tão sonhada Vésper portentosa!

  Nessas horas de pura admiração,
  Meu ser melancólico, então
  Morre e rebrota numa pulcra rosa.

Felipe Valle

  * Versos decassílabos no ritmo Heroico (6ª e 10ª).