quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Recordação Paterna

  Eu posso agora, pôr de lado o pranto,
  E ciente afinal d'agrura relembrar,
  Que de ti só me resta o espanto;
  — A dor — de ser mais um a se angustiar...

  Queria sentir-me amado e te admirar,
  Mas a tua índole roubou o encanto,
  E em minha face, triste a te remirar;
  Com tais negruras, qu'evocam tanto!...

  Alheio fugiste, e nem tentou assumir,
  Ou desculpar-se, dos erros indignos,
  E por fim, és u'a omissão a haurir...

  Preste atenção, inda a causar-me aperto,
  Meu pai!... — De teu devasso ser maligno,
  Eu te encovo e o proclamo morto!


Felipe Valle


  * Versos decassílabos no ritmo Sáfico (4ª, 8 e 10ª).

sábado, 24 de dezembro de 2011

Minha História

  Eu sei o por que do meu triste silêncio,
  Ainda o destino, de tão revolvido,
  Se fez distante, impondo seu desígnio,
  Quando de longe, compunha decidido;
  
  Triste estigma, tecendo meu suplício,
  Fios da miséria, além de emaranhado,
  Tolhe o restante, d'um esforço sadio,
  Por minhas mãos, e lamento calado...

  E assim na linha do tempo, se observa
  Entre o abrir, e fechar destas mãos,
  Toda uma vida, indo firme a minha cova.

  E todo Amor, desta atra trajetória,
  No porvir é que terás, destes traços,
  Sabido o quanto sofri, sem alegria. 


Felipe Valle


  * Versos decassílabos no ritmo Provençal / Gaita Galega (4ª, 7ª e 10ª).